Lá estava eu às sete da manhã, um giro interminável da Terra, terceiro vagão. Um sono, o sono, uma mensagem que não veio, a memória fraca demais pra ser esperança, o ar que não seria mais leve sem as máscaras de pano. Então, poucos vazios maiores que essas multidões aleatórias, eu não queria chegar em lugar nenhum, não de verdade. Mas tinha que andar na linha, tinha um salário de fome amarrada ao trilho. E imaginava os versos com tinta nas janelas, porque lá fora o nada, escuro, as pedras. Nem ninguém nas cascas.
Mas nos grupos começavam a chegar os gritos de miséria emocional, espiritual e moral fantasiada de política, meu deus a forma como algum farsante idolatrado diz o óbvio tanto o quanto o irrelevante, tanto quanto não diz nada ou só repete o que se espera enquanto é igual há dezenas de séculos, a Terra sem parar no vácuo, os fatos da semanas ou os livros de história. Não era a hora? Eu mal sabia se o metal mais forte atravessava os túneis ou em armaduras me impedia de enxergar o que pulsava à minha volta, se é que ainda pulsava, ou eram celulares que vibravam. Não, não era a hora, só mais uma estação, voz programada.
E eu tinha a nítida impressão, se não a mais clara certeza de que assim que eu fosse de verdade, já estaria condenado.
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