cantarei
assim como se a música não existisse e fosse preciso
inventá-la, abraçado às sombras e solar sobrevivendo uma vez mais nos guetos
numa pulsação ingovernável de deleites, tenho pensado que os caminhos levam
sempre a becos sem saída e que talvez a única saída seja não haver caminhos, cantarei a minha devoção gratuita e sem fim por
alegrias vulcânicas tingidas de neon nos bares ou submersas numa névoa de
histeria nos salões mais sérios ou serenas de velhice ou infantis correndo com
os pés descalços pelo asfalto sujo, não espalho as minhas frases com tanto
cuidado só pra parecer que elas choveram mas porque eu gosto mesmo é de colorir a razão ignorando os seus
contornos, adoro que o meu tempo seja uma sequência apaixonada de ilusões e
jaulas desmentidas por um corpo que é sua própria alma e emoção e pensamento em
trânsito e adoro quando me demoro indiferente e sonolento numa só verdade
confortável, tanto faz se estou sendo arrastado uma vez mais à margem do que é sóbrio
e sigo bem no centro do que não tem órbita, tanto faz se o que nos revela é o
que nos disfarça ou vice-versa, cantarei não
porque a vida é um erro ou porque deus queira ou não queira – eu sou também a
voz que silencia, e sou todas as vozes que jamais se calam – cantarei meus
hinos e meus gritos de revolta e minhas lágrimas e risos e meu nada e minha
ausência e meu vazio e meus lábios, cantarei porque já cantava muito antes que
surgissem as palavras, inteiro e a plenos pulmões embriagado
de uma lucidez que sobra e panfletário e me abstendo cantarei todas as
nuvens e castelos que me cabem, porque não sei por que, nem saberei quando terei
cantado.
2 comentários:
Porque temos que cantar, a vida assim fica mais leve e colorida
Porque se não cantarmos vai morrer do mesmo jeito, então hemos de cantá-la la la ra la ra la ra.
Postar um comentário