quinta-feira, 30 de janeiro de 2020



Andando pela rua a noite escura a música me acalma
Alarmes e sirenes e animadas festas e gemidos de prazer e risos
Um ronronar de toda a terra e de motores e de corações em disparada
Ainda as luzes amarelas sempre essas luzes amareladas com cara de sono
Quando te encontro nos meus pensamentos é com o corpo todo
Alguma coisa me acorda é como se você tivesse estado sempre em mim
Debaixo da pele e mesmo assim pairando ao meu redor pela calçada
Bússola em meu peito
Esse é o caminho de casa
Adivinho as tevês ligadas e chaleiras e lençóis e conversas sobre como foi o dia
Ao longo das janela e varandas e milhões de nomes de redes de wi-fi
O verde dos canteiros
O cheiro do asfalto
Dentro dos fones de ouvido
As coisas todas são este meu ir ao teu encontro e já não pesam nada
Papéis que me cabem
A longa jornada
Eu
Te amo
Aérea é a cidade e nunca me esqueci de que eu também tenho asas
Nada no caminho nem o apocalipse nada pode me impedir de estar indo
Eu já te amava muito antes desse tempo todo
Apresso o passo
Já estava a teu lado bem antes de qualquer um de nós dois ter chegado a este mundo
Estaremos juntos até muito depois de termos ido embora do mundo
Não é pelo mundo
É
Do outro lado desta praça
Até o final desta música
No mesmo lugar
Em tudo

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020



Onde o... Você sabe que... Placas ~ ondas batendo nas pedras
Olha a pamonha... Nem te contei... Gasolinas palavras
Calçada | Edifício
Teve uma vez que... Foi tarde... Ei!... A dor não deve ser adorno
Ecos de um mar de gente _ asfalto quente _ ente _
(E falta algum tanto de senso de humor)
Sobram doentes se vendendo como a cura
Sorvete
Bilhetes de loteria
E leveza água mineral refrigerante
Onde o... Você sabe que... Ruas de um barco em desorizontes
Blá blá blá ontem blá blá sei blá gente que blá blá blá blá
Faltava uma ironia pichada no muro,
“Não quer meu decassílabo perfeito?”,,,
A cor da pele sobre o líquido vermelho,,,,,
E sobre o caos de informações e quando se tratar de arte abstrata,,,,,,,,,,
nada
mais
concreto
(Mas ainda faltam avenidas que nos tragam, não que nos traguem
E que nos entreguem
Não que nos estraguem no trajeto)

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020


Meu sonho em si que não tem voz nem vez
Sem sono espreita-me no fim da estrada.
Já foste tudo e já não foste nada,
Um “sim-não-sim” que não é bem talvez.

A grande espera que se redesfez,
Que era futura e não será passada,
Fará de mim a história mal contada
Que eu não contei e é bem o que não vês.

Desse não-rosto ficam os retratos.
Meros fantasmas da ilusão desperta
Que me enlouquecem, sérios e inexatos.

E o sonho em si decifra-me, devora
Toda a esperança e, da janela aberta,
Mostra-me o sangue de uma contra-aurora.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Olhos que possam ver em meio ao mal
Feixes do amor que ainda resta

Que reconheçam ainda a diferença
Que não aceitem nunca a indiferença
Braços que façam pontes ruas hospedagens
O leite e o mel dos vales
Que a ninguém caiba mais dor depois de tanto bem doado
E que ninguém encontre só mais dor depois de ter buscado

E que sejam mãos estendidas não apenas para a própria glória
E que seja tão presente quanto sempre a melhor vontade
E que se espelhe pelo mundo todo

Ouvidos que enfim compreendam

(Perito Moreno - Argentina)