Escadas em caracol. Vitrais. Um outdoor com o sorriso malicioso de uma
moça usando apenas calças jeans. Papel prateado sobre um coração de cartolina, camafeu,
o que era um camafeu além de uma palavra feia? O que era um camafeu no meio
dessa história toda? Estou enjoado, ainda faltam quatrocentos e setenta e dois
quilômetros, curva, curva, uma freada brusca. Tentando esconder do sol o braço
esquerdo porque ele já está suficientemente mais bronzeado que o direito. Não,
meu bem, a sua vontade de ajudar ao próximo não pode derrotar meu egoísmo desmedido.
Não, você não entendeu: minha vontade de ajudar ao próximo é um troféu na minha
estante, só serve quando me permite te acusar de um egoísmo desmedido. Será que
alguém consegue não estar em nenhum lado nesse espelho? Talvez ele confesse o
inconfessável no chuveiro. Bola de neve, ímã de geladeira, um ego, um ventilador
paraguaio: o que era qualquer coisa no meio de todas as coisas? Um dia você já
sentiu o gosto da tinta da caneta, alguma vez uma caneta já estourou na sua
boca? Lembra-se de uma caneta que fazia desaparecer o maiô de uma mulher
conforme você a virava? Estou enjoado. Tudo isso é mal é o mar, é o ar
condicionado e uma história de aborto – por que é que não fui eu que não nasci.
O meu baú cuspia as coisas meio díspares, e dedos apertavam ao redor do teu
pescoço. (Agora deixo os nós e os fios serem o mesmo pensamento: é só o que
ainda não tentei pra mim deixar de ser burro.) Só sei que tinha sempre a luz de
tinta verde do rádio relógio, três horas e trinta minutos, três horas e trinta
e um, três horas e trinta e dois. A cento e quarenta quilômetros por hora, com
a palavra “agora” escrita no retrovisor.
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