quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Naquela tarde à margem do rio, os pensamentos desapareceram. Só o que existia era a realidade concreta à minha volta: os barcos ancorados, as crianças nadando e os cachorros correndo pela praia. Sensação de pertencer: se as palavras voltassem, se eu voltasse a pensar, tenho certeza de que pensaria “estou em casa”. Mas somente o ponto em que dois braços do Rio Negro se encontravam, barcos que passavam carregados de famílias, peixes, pedras, árvores altas para além das outras margens. O tempo amarrado à correnteza do rio passava devagar, quase não passava, quase uma lagoa, só, de luz intensa e viva sobre pele escura, folhas verdes, uma areia muito branca. Um pássaro pescava; outros, menores, cantavam à minha volta, pássaros brancos e amarelos. Superfície refletindo as casas de madeira em uma ilha – mas eu não pensava “ilha”, nem conseguia ver a água cercando a terra por todos os lados, só aquele pedaço de rio negro quieto, muito quieto. O que uma vez eu chamava de Eternidade Imediata: o puro instante; o puro não-eu, inteiro a paisagem.

Em casa, sim, se “casa” fosse uma palavra em que coubesse tanto.

4 comentários:

Anônimo disse...

É, você está em casa!! B

Unknown disse...

Muito bom se sentir assim! ❤️

Anônimo disse...

Que lugar é este???

AM disse...

Então... não citei o nome da cidade por opção, mas é Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas.