Naquela tarde à margem do rio, os pensamentos desapareceram. Só o
que existia era a realidade concreta à minha volta: os barcos ancorados, as
crianças nadando e os cachorros correndo pela praia. Sensação de pertencer: se
as palavras voltassem, se eu voltasse a pensar, tenho certeza de que pensaria
“estou em casa”. Mas somente o ponto em que dois braços do Rio Negro se
encontravam, barcos que passavam carregados de famílias, peixes, pedras,
árvores altas para além das outras margens. O tempo amarrado à correnteza do
rio passava devagar, quase não passava, quase uma lagoa, só, de luz intensa e
viva sobre pele escura, folhas verdes, uma areia muito branca. Um pássaro
pescava; outros, menores, cantavam à minha volta, pássaros brancos e amarelos.
Superfície refletindo as casas de madeira em uma ilha – mas eu não pensava
“ilha”, nem conseguia ver a água cercando a terra por todos os lados, só aquele
pedaço de rio negro quieto, muito quieto. O que uma vez eu chamava de
Eternidade Imediata: o puro instante; o puro não-eu, inteiro a paisagem.
Em
casa, sim, se “casa” fosse uma palavra em que coubesse tanto.
4 comentários:
É, você está em casa!! B
Muito bom se sentir assim! ❤️
Que lugar é este???
Então... não citei o nome da cidade por opção, mas é Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas.
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