Você não pode ver porque eu pareço muito sério, mas na verdade estou bem
de boa. Ontem entrou um morcego no meu quarto, aprendi a andar de moto, não tem
nada de grandioso nem de mágico no mundo, Olívia me contou histórias engraçadas
e eu também fiz ela rir: ganhei o dia. Passei a vida inteira dividido entre os
que se odeiam, todos diziam que eu estava “em cima do muro” e que esse é um
lugar de covardes, mas você vê: é mais fácil acertar uma pedrada em quem está
em cima do muro do que em quem está do outro lado. “Saia de cima do muro”, eles
gritavam, até que um dia eu disse o muro é meu e eu fico nele onde bem entender,
mas foi aí que ninguém mais ficou do meu lado, mesmo. E ainda temos que falar
de muitas outras coisas importantes, por exemplo: você já imaginou se os
gafanhotos comerem toda a floresta amazônica e virarem gigantes e começarem a
devorar cabeças de gente? Chega uma hora em que tudo começa a se repetir, você
já sabe quem vai encontrar, o que vai ouvir e o que vai dizer e aí você percebe
que a vida é só isso, não é uma questão de quantas cores você tem na tua
caixinha de lápis. Você não pode ver porque eu pareço muito sério, mas na
verdade estou me divertindo. Me convidaram pro futebol, fui avistado por um
boto, vou ali tomar um chope – não, espera: não
existe choperia aqui. Um dia alguém tentando ser cruel me perguntou “Onde
estão teus amigos?”, porque eu estava tão sozinho que doía, mas coloquei a mão
no peito e respondi: Comigo. Corre lá dizer pra eles. Não fique tão chateada
quando eu falo sério.
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