Na
segunda-feira, as ruas do Bairro Histórico estavam praticamente vazias.
Caminhei meio sem rumo das onze horas até o meio-dia, enquanto garçons cheios de
preguiça iam abrindo as portas dos restaurantes e uns poucos turistas
comparavam preços e sugestões dos chefs escritos com giz em quadros negros.
Escolhi meu restaurante pela música. Sentei-me à sombra de uma árvore em um
pequeno deck com vista para o Río de la Plata. Rock’n’roll e Iate Club. Um garçom gordo e simpático chegou com o cardápio, mas eu
não tirei os óculos escuros. Queria um macarrão à bolonhesa. Queria aquele
filhote de gato cinza ao pé da mesa em frente. Eu era o único cliente no
restaurante.
–
Los lunes son mortales – comentou o garçom quando me trouxe queijo e azeitonas.
– No hay casi nadie em las calles y estamos pelados... Los lunes son mortales, mortales.
Fiquei
pensando se ele envenenaria o meu molho à bolonhesa; ele saiu exibindo um
pedaço da bunda por cima da calça jeans. Outros filhotes de gato se juntaram ao
filhote cinza, deitaram-se sob o sol. Fiquei me lembrando da temporada que
passei em Santorini em mil novecentos e noventa e nove... Mentira, nunca estive
em Santorini. Mas me lembrei de Santorini pelo puro prazer de dizer que me
lembrei de Santorini, e porque tenho a impressão de que lá passei os meus
melhores dias ao lado de Marília. Também nunca tive uma namorada chamada Marília,
mas acho que lá, em Santorini, cheguei a pensar por alguns instantes que ficaríamos
juntos pelo resto da vida.
O
Río de la Plata refletia uma luz prateada que era a luz do sol filtrada por um
fino véu de nuvens.
Queria
escrever um conto sem metáforas nem simbologias, fingindo que os humores não
interferem nos recortes da objetividade. E só porque nada consegue dar conta, mesmo, de
traduzir a totalidade de uma experiência.
O
garçom voltou com um pote de queijo ralado em uma mão e um cigarro aceso na
outra. Inclinou-se sobre a mesa para deixar o queijo e derrubou uma porção de
cinzas sobre a toalha azul não muito limpa. Bateu as cinzas com os dedos, sem
dizer nada, e desapareceu outra vez com suas calças soltas.
Deixei
as azeitonas de lado e acendi um cigarro. Era o meu jeito de dizer ao garçom
que eu também não me importava nem um pouco com nada daquilo.
E que ele tinha
razão, afinal. Segundas-feiras são mortais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário