sábado, 29 de outubro de 2016

Quanto tempo espuma branca que se leva esse isopor pra borbulhar nas ondas –

hoje

dormi umas horinhas à tarde e quando acordei não conseguia mais lembrar se era sábado ou domingo.

Girassóis no quintal, casas de barro e tua voz tem um traço de brisa, as gaivotas de Viña del Mar, uma odisseia atrás de um abridor de latas – era sábado.

Era um poema que você não ia gostar e que eu comprei de um estudante de Letras na Praça da Liberdade, qualquer coisa muito cheia de xerez e entranhas, não dei mais que duas moedas: mal pagavam o papel e a minha culpa.

Não conseguia mais lembrar se estava em La Paz ou no mercado Ver-O-Peso, uma menina muito negra com um vestido muito vermelho em frente a um muro muito azul, chalanas do meu cântico escorrendo pela tarde e de repente a gente avista um homem caminhando sozinho no deserto, a face de um deus na montanha, a mágica Atacama, as silhuetas dos prédios contra a aurora dos milagres só nós dois donos da noite e dos quintais e do asfalto e de repente ops derrubamos um anão de jardim e sinto muito mas não vai ter cola mil que resolva. Então nós rimos, rimos, rimos. Peço um café com chantilly e sorvete de baunilha, penso outra vez na Jéssica, na morte da vontade dentro da casca de uma árvore e na droga de uma música que fica repetindo eu sei que vou ver teu rosto outra vez e vejo a luz do sol quase horizontal sobre os telhados de palha. Meus olhos de sertão não choravam, minha garganta de sal mal soluçava até que finalmente me lembrei:

Era a Bahia.

Brammm.
Bram bramm.
Quanto tempo espuma bramm brambranca.
Silêncio uma canção de ondas quebrando brando bram.

Ei, mundo,
não quero mais brigar.

E não é só porque hoje é sábado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito lindododo...