sábado, 11 de fevereiro de 2017

Tive que descer pro inferno e só te levei comigo até o vigésimo oitavo degrau. Não sei se te subestimei ou se exigi demais, só que no inferno a gente não poderia mesmo ter entrado de mãos dadas. Se fosse indo pro céu seria a mesma coisa, porque o teu céu tem todo aquele algodão-doce rosa e chafarizes de cristal e pérolas no enfeite de cabelo enquanto o meu tem uns lagartos coloridos, fruteiras públicas e grandes varandas sobre abismos e oceanos índigo. Se eu dissesse que você não é o que pensa, você entenderia que não é teus pensamentos ou pensaria que eu estivesse te acusando de ter uma opinião errada a teu próprio respeito? Se bastasse acreditar que os pensamentos correm pra onde querem, alcançar toda a profundidade dos contrários e de não haver contrários ou digamos assim se o coração reinasse a rédeas soltas então caberia entender alguma coisa, ou serviria de algo? Nenhum instinto há de ser encorajado porque todos sujos e perversos e a razão somente a civilização nos fez desenvolver algum cuidado algum olhar ao próximo? Já é lei que a bondade a consciência são o discurso de consolação dos perdedores e nada, nada, nada nada mais? Sobrou somente a estrada de terra batida e quem sabe os pés, só um agora previsível e suspiros e talvez flores de cactos, essa falta de imaginação que me fulmina, a indisponibilidade, a minha preguiça de falar recorte-aqui se estou traçando a linha pontilhada? Mas ah, um poço de luz se acende imenso sempre que mergulho em busca da tua imagem – e pelo menos isso ainda posso dizer que é verdade. Que é o teu bem o que eu quero, que eu ganhei estou crescendo e que você me faz acreditar em dias melhores – eu sei, posso até ver é cada vez mais claro. E por tudo o que há de mais sagrado neste mundo: se todo o resto for a pena, vale.

Um comentário:

Anônimo disse...

as vezes temos que ir ao fundo do poço pra depois voltar, é sempre assim