eu fico mudo de espanto. esse milagre de ser, multiplicado e diverso, o balé do acaso em multidões pelas ruas e crianças em parques ou pátios de escola, eu mal consigo acreditar, meus olhos se prendem e eu me esqueço de tudo. ou por exemplo quando você fala. quando um sorriso se abre e quando os teus olhos brilham ou também se prendem nos meus como se me investigassem ou estivessem à espera. eu não me canso de olhar. olhar de curioso, de ignorar por completo as combinações e graus de pensamentos emoções e instintos que agitam os gestos. fala, por favor, não pare nunca de falar. que força escolhe o tom da voz, que força vibra o ar e o que pretende que se agarre – eu posso olhar eternamente, embriagado, agradecido e triste de saber que nada pode aprisionar e preservar indefinidamente no meu corpo as vidas que observo. no meu corpo, sim, este que é o único palco de eu também ainda estar vivo. nem mesmo a memória vai poder reproduzir cada pequeno instante, cada desconhecido íntimo ou anônimo que observei alguma vez por horas e observaria ainda por outras, mudo de espanto. não, não tenho como acreditar. porque existir não é possível, só não é. e ainda assim se existe.
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