domingo, 7 de maio de 2017

Estive outra vez sob os holofotes e não gostei. Meu amor se espalhou pra muito além de uma identidade, até que não soubesse mais ter direção. Eu também era a plateia atônita ao me ver ali tão quieto, uma estrela implodida no peito: quando eu cantava a dor, nem sempre doía, mas quando me calei foi porque a dor ultrapassava qualquer possibilidade de expressão. Meus filhos, meus irmãos, meus companheiros de luta levaram pro mundo pedaços de mim e eu estava sozinho na berlinda, e meu momento presente havia se tornado um vácuo. Você vai se lembrar de alguma vez que eu te fiz rir, mas não de que hoje é meu aniversário. Você vai percorrer estradas que eu abri pra te ver livre ou se abrigar em fortalezas que ergui, mas não vai citar meu nome em seu discurso de vitória. No fim, nem era mais pelos aplausos, nem era mais pra alimentar a alma do meu público que eu me movia: eu era um títere que recusou todos os titereiros e que por isso quase foi estraçalhado por eles, mas que aprendia então o próprio impulso. O que sobrou, o que está aqui não é minha presença. Você me vê falar? Pode enxergar lugares em que estive, alguns percursos lógicos e emocionais, desenhos ruins, fiapos de boas ideias? O sujeito deles, se existiu, passou faz tempo. Isto, agora, é só você escolhendo espelhos.

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