Faltou luz e todos os sorvetes da cidade derreteram.
Fiquei olhando o teto antes de dormir pensando eu pago as minhas contas lavo as minhas cuecas troco as lâmpadas queimadas os pneus furados as pastilhas contra insetos não bebo não fumo não falo palavrão nem conto piada que todo mundo conhece e é assim que Ele me trata.
Pode ser Ela também.
O Acaso, a Providência ou por que não Deus ou a Deusa.
Ia dizer eu só acreditaria num deus que risse de si próprio mas acho que ele ri mesmo se existe.
Ou ela.
Seja uma consciência ou não essa força que rege os destinos da gente tem um senso de humor afiadíssimo e uma noção de Bem e Mal muito diferente do que se imagina.
Existe uma Ordem, claro, que é quando os sorvetes estão congelados por exemplo, mas tem que ver que isso aí é só um entre infinitos eventos possíveis no Caos, e não é legal ficar forçando pra que seja sempre assim dizendo que “é assim que tem que ser ou se não você vai arder pra sempre no fogo do inferno”.
Quer dizer, a Ordem só faz sentido quando é natural porque pensa bem, se fossem obrigatórios, ou quando são impostos, se forem exigidos incondicionalmente o amor, a bondade, a gentileza, então eles não existem de verdade, certo? Se forem apenas uma imitação de determinados gestos, se apenas o cumprimento mecânico de dogmas, então é só isso que eles são, né, cópias vazias.
Ok, Acaso, tá perdoado por me deixar sem sorvete. Agora vá e não peque mais.
É muito chato ter que ficar perdoando o tempo todo.
Um comentário:
Não é bem assim����
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