um estrangeiro atravessando a multidão em festa a noite colorida e calma do Médio Rio Negro, as conversas cotidianas espalhadas num cenário novo as barraquinhas de pastel de algodão-doce e bolos bandeirinhas de São João cobrindo a rua, um quadro singelo vendo os séculos ruírem, nunca mais a gravidade das filosofias e literaturas, por que elas nos afastam tanto assim da vida a vida a vida,
solitário ele vai quase de outro mundo, aprende os gestos e palavras só de olhar, mergulhado no ser-outro, o estrangeiro avança entre boas-noites e sorrisos de boas-vindas, queria ser um descendente indígena e tem um nome e cara e hábitos tão europeus, o é-assim-que-tem-que-ser que não lhe serve mais querendo dançar junto na quadrilha, querendo se casar com aquela moça,
vê correrem lado a lado uma desilusão profunda e um estar perdidamente apaixonado, ou são crianças acordadas até tarde, os pula-pulas e balões de gás hélio,
o estrangeiro tenta, erra, acerta sem saber, aprende,
os sons a música as risadas no salão a embriaguez desenrolando as horas madrugada afora enquanto lá fora o ar é renovado pela selva, onde e quando será não ser mais estrangeiro, como e com quem será, a ilha de incerteza em meio à festa arrisca um passo de dança e ri sozinha, até que nem tão solitário mas inteiro ali, na única realidade que interessa, ah sim, aquela.
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