Teu silêncio era um grito de cansaço e de abandono. Numa folha de
caderno, teu adeus era espelho e espectro de antigos versos que fiz pra
ninguém. Segui teus passos pela vida, teu corpo escondendo e escorrendo luz,
dia após dia a tua fragilidade humana acumulando máscaras, dia após dia a tua
lágrima e você via, talvez, o mundo que eu te dei de almas e de olhares, você
levava as minhas palavras feito mapas, mas seguia adiante em teu definitivo
adeus. Um tempo material, rolando e lapidando as pedras e nascendo o limo, se
as tuas mãos segurassem as minhas outra vez, vou te conter, e te contar sobre
um amor enfurecido, ódio terno, um coração capaz de sentir tudo isso e nada,
mais uma noite que fosse e que você dormisse nos meus braços feito criança
crescida, grilos e sapos e ventos seriam bem mais que um castelo, mas não, há
muita selva lá fora. Teu grito agora é tua presença na estrada, espreitam e
você sobrevive, imensa fortaleza de tédio e indiferença e de querer que te adorem
e de velas sempre içadas pra próxima fuga. Te estendo as mãos, mas já nenhum
dos meus destinos te chama, no vazio dos dias, meses, séculos, estas mãos
estendidas te esperam e sabem o que não terão, e fazem seu trabalho ingênuo
transformando o mundo e segurando outras mãos e bebendo de outros copos, te esperam
e te esperam e você não virá, cada vez mais longe conquistando o céu em que eu
falto, constelações de nanquim, aplausos bêbados, todo um séquito de sombras,
ninguém paga o que me custa te querer tão bem, não te querem tão bem assim e te
querem e ardem, onde o teu grito não me alcança mais, onde a tua voz rouca me
escapa, eu que sempre quis me entregar a você mesmo sem conhecer o que
entregava – e isso, talvez, o que mais te afastasse – derramo estes versos
finais sobre a ferida da ausência: bebe, seja leal, imagem pura e memória,
nunca mais sangrará, seremos vivos enfim, não saberemos o resto.
Um comentário:
Adeus.....
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