sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Lá se vão, um por um. Com suas palavras como roupas gastas, cães de guarda de rancores e mágoas e raivas cultivadas como frutos negros de que me servi durante toda a vida. Lá se vão as razões e a lógica impecável do meu jogo de xadrez interno; lá se vai minha cobiça, lá se vão meus medos – lá se vão, um por um, os elos da corrente em que me mantive atado por um misto de vaidade e incompreensão.

Deus vive em mim. Nada no Universo descansa enquanto não tiver regressado à pureza com que foi gerado; e tudo descansa, porque é puro: o movimento é ilusório, e só a ilusão se move. Assim, no que não pode ser dito, escrevo. Assim, no que pretendo alcançar, espero.

Deus vive em mim. Guardado no coração que Ele guarda, luminoso e, como fonte de luz, completamente alheio à sombra que produzo. Mas eu, que sou luz, por que não vejo? Eu, que vivo em Deus, por que me interponho em seu caminho?

Aos poucos, lá se vão as perguntas para o silêncio eterno e acolhedor que responde: Eu sempre estive aqui.

Aos poucos, sem que eu precise remar, mas porque remo, o mar me conduz à praia desejada em que sempre estive.

Aos poucos, em paz, dissolvo a tormenta, bebo-a e desperto mais forte – sabendo que a tormenta era eu, e a paz, e a boca que bebia, e o tempo de cada uma dessas coisas ter sido o que foi.

2 comentários:

Anônimo disse...

Em paz com nós mesmo , é tudo de bom!!

Unknown disse...

Que lindo Ró!! ❤️