sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018


Isso é o recorte de uma foto que incluía um quintal com dois cachorros e uma casa vermelho-sangue com uma mulher parada à porta. A mulher apareceu quando eu me preparava pra fazer a foto e perguntou o que eu estava fazendo num tom de quem queria dizer o que caralhos você pensa que está fazendo. Falei que era arte, menti que estava fotografando só a placa e ela entendeu menos ainda, porque afinal qual seria o interesse de uma placa, e antes que eu pudesse responder a isso ela disse que não autorizava que eu fotografasse nada. Dei de ombros, grato por ela me poupar de responder à sua pergunta sobre a placa com alguma comparação meio forçada entre arte e serviços de enfermagem. Já estava seguindo meu caminho quando me deparei com umas flores que chamaram minha atenção, ali mesmo em frente à casa dela, mas do lado de fora da cerca.



Levei alguns minutos fotografando ali e a mulher aproveitou pra se aproximar e fazer um interrogatório mais detalhado. Contei-lhe quase toda a minha vida, depois pude saber também seu nome e um pouco sobre seu trabalho num hospital psiquiátrico ali perto. Ela explicou que tinha ficado preocupada quando me viu fotografando porque em seu país andavam acontecendo coisas muito sérias, como meninas sendo assassinadas e jovens se matando por causa de drogas. Disse que as pessoas daquela cidade não tinham essa mentalidade do que poderia ser arte, que a visão de mundo ali era bastante limitada. Eu quis lhe mostrar minhas fotos, mas ela se recusou a ver, dizendo que não lhe fazia falta pra se convencer de que eu era confiável. No fim, chegamos a um entendimento, mas não sabia se isso retirava a proibição de lhe fotografar a casa e decidi nunca publicar a foto inteira, em que ela própria seria exposta.

Então, aqui temos a fotografia de uma placa.

Ou duas.

Mais tarde, naquele mesmo dia, vi na internet a história de uma fruta que foi deixada em um museu e confundida com uma obra de arte. Igual a tantas outras histórias que eu já tinha ouvido. Cartazes, caixas de ferramentas, um óculos, um chapéu ou um guarda-chuva que alguém deixou num canto e foi confundido com uma obra de arte.

Sim, é. Há arte por todos os lados.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo, mas só para quem tem olhar de artista