quarta-feira, 11 de abril de 2018

(comece pelo 2o parágrafo, volte para o 1o e depois pule para o 3o e siga adiante)

- como aquele menino é parecido com o Fabiano, e aquela moça é igualzinha à Cristina quando tinha dezesseis, e que saudade da Cristina aos dezesseis, e do Fabiano, e de todos os passados bons que tive, e de outros que inventei, saudade que às vezes é um sopro suave já passa, às vezes é ter o coração arrancado a unhas às seis horas da manhã, quando o despertador toca. <///>

- etapas da cidade, a cor do céu sobre o asfalto em ruas comerciais e residenciais várias quadras de cima abaixo aquela distância do horizonte no Planalto Central meio verde meio já Goiás e meio ainda DF. Semanas inteiras pensando em cachoeiras de Pirenópolis ou da Chapada, aquela água fria no verão sem chuva, Jardim Céu Azul, uma igreja em construção da poeira vermelha, o fim da linha de um ônibus, apenas uma quarta-feira. Aqui teu sonho é muito branco, muito burguês – imaginei que diriam os olhos daquele menino, e como aquele menino é parecido com o Fabiano...

<///> – Aqui é a Terceira Etapa? – perguntei. – Céu Azul? – O menino me olhou com uma cara que parecia que era um raio x com um detector de metais e de mentiras mais uma investigação completa da minha vida, e tudo isso só me olhando.

Dez horas da manhã e eu me lembrei do jeito que a Cristina cantava Asa Branca.

Este planalto é o sertão, longe demais de tudo. E eu gosto, não gosto, não entendo. Aquela praça ali parece uma de Porto Alegre, aquele prédio parece um outro em que eu morava em BH. Aqui meio que é todo mundo estrangeiro, mas meio que nem todo mundo é. O horizonte grande demais também oprime às vezes; estranhos familiares ainda são estranhos; nem tudo são cartazes de boas-vindas. Tenho que caminhar talvez mais alguns quilômetros, e faz muito calor, mas o menino confirmou que estou no bairro certo – meio resmungando, sem desfazer a expressão de desconfiança, mas confirmou. Jardim Céu Azul em Valparaíso de Goiás, no auge do verão. Algumas ruas acima, estarei no Distrito Federal, hoje só um palco de comédias tristes com roteiristas esnobes. No calor do cerrado. Tão no centro de tudo, dentro demais de tudo. E ainda. Tão. Longe.

Um comentário:

Anônimo disse...

Volte! Beti