sábado, 9 de junho de 2018

Só me lembro de enxergar debaixo d’água. Não de me desesperar, nem de sentir o ar faltando, nada: só me lembro da luz, de como os raios do sol se espalhavam a partir da superfície e iam afundando em direção ao nada, até sumir. É, dá pra explicar desse mesmo jeito o que estava acontecendo na minha cabeça: afundando em direção ao nada.


todo um poema acontecendo aqui e você pedindo outra colheita de crimes. eu é que não vou morrer de novo só porque as tuas palavras aleatórias são aleatoriamente bem mais importantes do que as minhas. pra você, isso não quer dizer nada, mas agora eu só consigo pensar que só umas poucas letras embaralhadas diferenciam confronto de conforto.


Escuto o som dos motores dos carros, caminhões e motos que passam pela estrada ainda a esta hora. E de repente, então, correntes contra as grades, passos na escadaria do prédio e o clic da luz acendendo, chaves, uma chave arranhando a porta e logo em seguida o molho inteiro de chaves caindo no chão, silêncio. Não pode ser ela, eu penso, ela não vem, é claro. Algum vizinho está bêbado.


Não me lembrava de nada: nem do meu nome, nem de ter existido antes de acordar naquela cama de hospital. Os primeiros dias foram os piores, porque qualquer coisa que passasse pela minha cabeça poderia ser algo que eu tivesse vivido. Cenas de filmes, sonhos, pesadelos, qualquer coisa. Passei dias acreditando, por exemplo, que eu tivesse mulher e filhos me esperando preocupados no interior do Tocantins.


Sabe aquela sensação de quando você chega na padaria de manhã bem cedo e o pão acabou de sair do forno?

Um comentário:

Anônimo disse...

E quando il pane sforno