Só
me lembro de enxergar debaixo d’água. Não de me desesperar, nem de sentir o ar
faltando, nada: só me lembro da luz, de como os raios do sol se espalhavam a
partir da superfície e iam afundando em direção ao nada, até sumir. É, dá pra
explicar desse mesmo jeito o que estava acontecendo na minha cabeça: afundando
em direção ao nada.
todo
um poema acontecendo aqui e você pedindo outra colheita de crimes. eu é que não
vou morrer de novo só porque as tuas palavras aleatórias são aleatoriamente bem
mais importantes do que as minhas. pra você, isso não quer dizer nada, mas
agora eu só consigo pensar que só umas poucas letras embaralhadas diferenciam
confronto de conforto.
Escuto
o som dos motores dos carros, caminhões e motos que passam pela estrada ainda a
esta hora. E de repente, então, correntes contra as grades, passos na escadaria
do prédio e o clic da luz acendendo, chaves, uma chave arranhando a porta e logo em seguida o molho inteiro de chaves caindo no chão, silêncio. Não pode ser ela,
eu penso, ela não vem, é claro. Algum vizinho está bêbado.
Não
me lembrava de nada: nem do meu nome, nem de ter existido antes de acordar
naquela cama de hospital. Os primeiros dias foram os piores, porque qualquer
coisa que passasse pela minha cabeça poderia ser algo que eu tivesse vivido. Cenas
de filmes, sonhos, pesadelos, qualquer coisa. Passei dias acreditando, por
exemplo, que eu tivesse mulher e filhos me esperando preocupados no interior do
Tocantins.
Sabe aquela sensação
de quando você chega na padaria de manhã bem cedo e o pão acabou de sair do
forno?
Um comentário:
E quando il pane sforno
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