Eu me feri porque
fui humano, ainda cometo muitos erros, nem sempre há esperanças, nem sempre
nada me contém. Mas me deixe esquecer disso tudo hoje à tarde, eu sei do que e
do quanto eu posso ser, aceito o que não tenho, não te peço amor, não te peço
que me faça deus, nada vai mudar o fato de que eu sangro. Perdi porque estive
sempre à procura, morri todas as vezes que as minhas forças me deixaram, de vez
em quando, só, foi que depois de morrer encontrei outras. Não penso que estar
vivo é um fardo, ofereço o melhor que posso, às vezes até mesmo tudo que
possuo. Agora me deixe quieto, não tente, as águas estão sujas pelos que
passaram revirando a terra do fundo, a ventania meio que despetalou o meu
telhado, algumas sementes não vingaram, frutos apodreceram, corações demais
foram despedaçados. Só me deixe em qualquer canto, não importa, a salvação é
essa e eu não preciso de mais nada, mas te agradeço se ficar por perto. Mas te
agradeço se me fizer uma prece, assim como agradeço pelo tom exato de silêncio.
Lá fora é um engano, uma queda, o meu corpo inteiro é um grande desencanto. Não
quero. Não minto. Falhei porque sou homem, estou chorando porque já não sou
criança. É inevitável, eu sei, bem mais do que um direito. Mas, mesmo assim,
qualquer perdão é um descanso.
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