terça-feira, 4 de dezembro de 2018

no alto da 3ª ponte eu disse meu deus como é pequena a vida de um só
lá embaixo os prédios / no ônibus corpos tentando se equilibrar sem se tocar muito
sapateiros procurando emprego, porteiros, eu querendo aprender a poesia dos estivadores
ontem parei pra fotografar ao pé de uma escadaria apareceu um morador do bairro me olhando assustado
você é brasileiro ele perguntou olhando pra câmera
você vai fotografar aqui ele perguntou olhando preocupado pra uns caras na escadaria
vitória não é de ninguém
sentei pra comer um cachorro-quente numa praça e tinha lá uma galera do hip-hop reunida
mandando um papo reto / rimando / cantando “eu ouço muito por favor e muito pouco obrigado”
perdi a conta dos muros em que alguém pichou “vivi pouco / sofri muito”
e eu que vivi um bocado
sofri um bocado e nunca pichei um muro
de repente só queria ter amor e ser amor pela favela
quando embarcaram duas garotas meio bêbadas cantando alto sobre o sexo
a agressividade do funk / as mais pedidas do espírito santo
ninguém se meteu com elas
perto delas minha poesia é pra bebês
ga ga nhenhém bvvvvv é-aaah
eu estava escutando mas o cara do meu lado se aborreceu parece
colocou fones de ouvido
e escolheu um funk mais do seu agrado

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