Esse desfile de mesquinharias. E aplausos. Refiz os
cálculos, como todos os dias, outras doze horas de suor e as pedras que rolei
até aqui em cima acabaram de despencar outra vez. Mas tem um carnaval de
brilhos bobos escorrendo pelas ruas feito esgoto em que as crianças brincam.
Anos. Anos de sonho e de sangue e de sangue e de sangue nos pés e nas mãos e
nas costas e quantas vezes nas lágrimas, por nada, só por continuar sangrando.
E aquele prêmio pra mais um covarde, o mais hipócrita eleito, os holofotes
todos ligados sobre o mesmo velho pedestal de prepotência e descaso. Luto.
Lapidando as pedras, versos e vazios, mas sozinho e não pelo que te falta de
mim. Não, e por mais que eu me esforçasse, nada do que eu toco se transforma
nesse ouro de tolo, nada que se possa esculpir com luares chega ao mesmo altar
desses ídolos de barro e cuspe. Um desperdício de não termos menos que dez mil
anos de idade. E o meu cansaço. Tanto. Tão nosso e tão menosprezado meu cansaço,
naufragando os intervalos.
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