aceito o vinho. e uma partida de
palavras cruzadas. a gente decide, cara ou coroa, teu assunto ou o meu. posso
passar horas te ouvindo falar, horas mesmo, dias inteiros, toda a quaresma. e
posso te ensinar um truque pra sempre pegar o triplo valor da palavra. cara ou
coroa, teu jogo ou o meu, às vezes tem paciência até pra um jogo de cartas,
mais vinho, um dia a gente chega em becos sem saída cheias de verdades
dolorosas demais pra saberem ser faladas em voz alta, um dia a gente engata
numa discussão desnecessária sobre uma bobagem que não interessa a mais
ninguém, um dia a gente chega no eu não quero nem olhar pra cara desse aí, mais
vinho, me diz se você ainda pensa que mudar o mundo já perdeu a graça, me conta
o que você pensou, mais vinho.
sabe, ninguém tá nem aí pros nossos
cachorrinhos de apartamento, pra quanto custaram alguns troféus de guerra, pras
figurinhas repetidas dum álbum que ninguém mais tem. mas eu pediria emprestadas
umas revistas em quadrinhos, anotaria uns nomes pra pesquisar mais tarde,
perguntaria como é que se fala é eu explodo ou eu expludo. ninguém tá nem aí
pros porta-retratos da minha prateleira, pra quando eu atravessei desertos
ensolarados, pra tanto mundo que eu vi, pra cicatrizes de bala.
mas acho que eu diria pra você tirar um
tempo e assistir tal filme, ouvir aquela banda ou ler um livro ou outro que
falasse sobre isso, talvez eu resumisse um livro, talvez eu lesse uns
parágrafos.
mais vinho.
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