Joaquin dizia que o
fato dele ser tão quieto e “antissocial” não era exatamente culpa dele. Como
argumento, usava sempre uma história de quando vivia em Tucumán ou Salta, ou
qualquer outra capital do Norte da Argentina. Numa das poucas vezes em que
andou por lá de táxi, contava, o taxista ouvia atentamente um debate no rádio
sobre a partida de pouco antes entre River Plate e sabe Deus qual outro time
argentino, mas dava pra entender que tinha sido um jogo importante. Como
Joaquin não ligava pra futebol, não tinha muito pra conversar, mas o motorista
fez um esforço (“Sim”, dizia Joaquin, “Deus abençoe as pessoas esforçadas,
gosto delas”). Ele perguntou:
– Você gosta de
futebol?
Como Joaquin disse que
não, ele ficou um tempo processando a informação e o pouco de sotaque que meu
amigo tinha.
– Você é brasileiro? –
perguntou. Joaquin explicou que tinha nascido no Uruguai e se mudado com a
família pra Florianópolis quando ainda era bebê, então sim, considerava-se
brasileiro. Aí o motorista ficou realmente confuso: – E você não gosta da
verde-amarela nem da azul-celeste?
– Olha, – defendeu-se
Joaquin – na Copa do Mundo, até assisto a alguns jogos. Mas fora isso, não me
interesso por futebol.
A essa altura, dava
pra ouvir o cérebro do motorista trabalhando. Ele estava lidando com algo muito
além da sua capacidade de compreensão. Num último esforço, perguntou, quase em
tom de súplica:
– Basquete?...
Joaquin fez que não
com a cabeça e ele disparou, agora com uma pontada de irritação:
– De que esporte você
gosta, então?
– Natação – disse
Joaquin, com toda a sinceridade que Deus lhe deu.
Foi a gota d’água pro
motorista, que fez a maior cara de que ele estava brincando com assuntos
sagrados, aumentou o volume do rádio e não voltou a dizer uma palavra até o fim
da corrida.
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