quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Joaquin dizia que o fato dele ser tão quieto e “antissocial” não era exatamente culpa dele. Como argumento, usava sempre uma história de quando vivia em Tucumán ou Salta, ou qualquer outra capital do Norte da Argentina. Numa das poucas vezes em que andou por lá de táxi, contava, o taxista ouvia atentamente um debate no rádio sobre a partida de pouco antes entre River Plate e sabe Deus qual outro time argentino, mas dava pra entender que tinha sido um jogo importante. Como Joaquin não ligava pra futebol, não tinha muito pra conversar, mas o motorista fez um esforço (“Sim”, dizia Joaquin, “Deus abençoe as pessoas esforçadas, gosto delas”). Ele perguntou:

– Você gosta de futebol?

Como Joaquin disse que não, ele ficou um tempo processando a informação e o pouco de sotaque que meu amigo tinha.

– Você é brasileiro? – perguntou. Joaquin explicou que tinha nascido no Uruguai e se mudado com a família pra Florianópolis quando ainda era bebê, então sim, considerava-se brasileiro. Aí o motorista ficou realmente confuso: – E você não gosta da verde-amarela nem da azul-celeste?

– Olha, – defendeu-se Joaquin – na Copa do Mundo, até assisto a alguns jogos. Mas fora isso, não me interesso por futebol.

A essa altura, dava pra ouvir o cérebro do motorista trabalhando. Ele estava lidando com algo muito além da sua capacidade de compreensão. Num último esforço, perguntou, quase em tom de súplica:

– Basquete?...

Joaquin fez que não com a cabeça e ele disparou, agora com uma pontada de irritação:

– De que esporte você gosta, então?

– Natação – disse Joaquin, com toda a sinceridade que Deus lhe deu.

Foi a gota d’água pro motorista, que fez a maior cara de que ele estava brincando com assuntos sagrados, aumentou o volume do rádio e não voltou a dizer uma palavra até o fim da corrida.

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