Querida Shattiey;
Nunca fui o maior fã
do twitter e tenho que concordar com nosso amigo que disse que você é
insuportável, mas o pior é ter que admitir que se eu tivesse um perfil naquela
rede, ele seria muito parecido com o seu.
Hoje tem coisa demais
no mundo construída sobre a incompreensão, a tal "normalidade" anda
doente e o que reina, absoluto, ainda é o medo de sermos inteiros, um pânico,
um desespero. Porte de alma, claro, ninguém quer liberar, Deus o livre, e em
vez de vida fora do mercado, lá seguem as massas sendo massas e comprando os
gritos de libertação que vendem mais, parcelados no crédito. O problema da
esquerda, como você diz, é que ela está muito cheia de cretinos, assim como na
direita até as melhores pessoas estão muito cheias de ideias cretinas. Mas
quando uma pessoa está decidida a ser uma idiota, você sabe, não adianta nada a
gente ter razão.
Nessas revoluções
dentro de bolhas, com luxuosos desfiles intelectuais e vícios discursivos que
não aceitam sutilezas, tenho ouvido as fantasias mais delirantes sobre
superioridades morais de todas as partes, como se não estivesse todo mundo tão
ridiculamente sendo um bicho humano. Mas você é alguém que se cansa de ser
desagradável, às vezes, aproveita que é uma personagem de ficção e tira uns
dias pra não existir, simplesmente. O mundo não precisa de gente, é verdade, a
raiva é superestimada e o povo romantiza demais essa porcaria de falta de
romantismo – em vez de partir logo pro mundo ideal em que todas as discussões
terminariam com "vá ler poesia". Ainda bem, minha querida, que você
está aí nos enviando suas notícias de envelhecer sendo uma poeta adolescente,
com suas saudades tão nossas de quando o resto era silêncio.
Com certeza é um mundo
muito chato pra crianças, ainda mais pra crianças da nossa idade.
Estamos juntos,
Shatty. Em algum lugar, de alguma maneira, o amor já ganhou faz tempo.
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