No fim, eu estava sentado em um ponto de ônibus às três e meia da
madrugada. Inutilmente, como já sabia. Fazia frio, eu tinha os dedos dos pés
gelados e nenhuma força pra me manter em movimento, nem nenhuma vontade.
Enquanto a noite se arrastava por aquela rua vazia e sem vento manchada pelas
luzes amarelas dos postes. Meu coração tinha acabado de sumir, e no lugar em
que ele pulsava antes, agora só existia alguma coisa meio parecida com
irradiação fóssil. Eu não queria chorar, eu não queria reagir, eu não queria
mais nada. Nem os pensamentos conseguiam tomar forma, nem haveria um deles que
pudesse desfazer a sensação absoluta de derrota, de uma luta vã que eu arrastei
durante tanto tempo só pra chegar à solidão daquela noite no centro de uma
cidade esquecida. Muito ao longe, talvez, ou muito perto e baixinho, ecoava uma
canção meio vaga sobre o destino melancólico dos descendentes dos anjos sobre a
Terra: algo que ouvi na infância, como se a memória de uma canção assim ingênua
pudesse me ajudar contra a imobilidade sólida do presente. Já era tarde. Não
passaria nenhum ônibus naquela rua. E não havia mais nenhum lugar no mundo em
que eu ainda conseguisse me sentir em casa.
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