Você pensa que o mundo é movido a ambição.
Pensa que todos nós temos que ter uma ambição igual à sua
se quisermos ir pra frente.
Você pensa que o que chamam de progresso pode atropelar à
vontade o que estiver em seu caminho.
Eu tenho é muita desconfiança de tanta bobagem.
O que eu sei, o que é óbvio é que tem muitas coisas além da
ambição movendo o mundo.
Coisas demais, a verdade é que o mundo se move muito fácil.
Um cientista disse uma vez que só precisava de uma alavanca
e de um ponto de apoio e ele moveria o mundo.
E olha que ele estava falando em mover o mundo literalmente,
não nesse movimentozinho abstrato da ambição de vocês.
Pra ser sincero eu não me importo muito com essas coisas porque
até gostava de ter um mundo sempre parado igual a uma manhã de domingo.
Porque se você for pensar direito não faz o menor sentido
ficar se movendo tanto se não tem nenhum outro lugar pra irmos.
Quer dizer, podem inventar uma porção de coisas, mas
ninguém sabe dizer com certeza quando é pra frente mesmo que estamos indo.
E isso de atropelar o que estiver no caminho é de uma
estupidez tão grande e até uma criança sabe que não vai sair de graça.
Muito mais difícil que mover é sustentar o mundo.
Manter alguma luminosidade na vida frágil.
Sem essa maquiagem toda, o filtro na foto, o orgulho
mesquinho da marca da roupa, da máquina, de um prato de comida, dos olhos da
cara.
Muito mais difícil que incendiar os desejos é fazer dormirem
os desesperados.
Mergulhar o coração na terra até sua carne ser do mesmo barro.
Muito mais difícil, e até muito mais urgente do que possuir
uma paisagem morta, escravizada, é saber fluir como seiva dentro de suas
árvores.
Compreender a ondulação quieta do tempo, porque é essa a
sua matéria.
O resto é um rasgo, não nos interessa em nada.
É uma poesia insossa, estéril, duvidosa.
Pode ficar com ela pra você, encher seus bolsos com ela,
construir palácios, muros, programas de auditório.
Pode fazer o que quiser com ela.
Não iremos junto, não nos ofereçam, por favor, não somos
tão iguais de cegos.
São
coisas que desabam.
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