Aline foi conhecer Curitiba aos treze anos, numa viagem de férias com os pais e os dois irmãos pequenos, em mil novecentos e noventa e quatro ou noventa e cinco, levando uma daquelas máquinas fotográficas que você só ia ver as fotos depois de revelar o filme, às vezes semanas ou até meses depois. Muitos anos mais tarde, quase aos trinta, ela reviu as fotos dessa viagem numa visita aos pais no Sergipe, depois que ela mesma já tinha voltado a Curitiba pra morar e cursar uma faculdade de dança. Folheando um álbum, Aline reconheceu o Jardim Botânico numa das fotos, mais por já ter estado lá muitas vezes do que por se lembrar da viagem aos treze. Nessa fotografia, ela estava sorrindo, abraçada aos irmãos ao lado de uma fonte, perto da estufa. Ficou olhando um bom tempo até reparar no rapaz sentado em um banco ali perto, algo em que ela nunca tinha reparado antes. Nem saberia explicar por que reparou dessa vez, mas alguma coisa atraiu sua atenção naquele rosto e ela aproximou a foto pra olhar. O rapaz era muito parecido com um pintor de quem ela tinha ouvido falar algumas vezes em Curitiba, e que já tinha visto uma vez ou outra andando por lá com o pessoal de artes. O curioso foi que, assim que voltou do Sergipe, depois de fazer essa descoberta na foto, esse mesmo cara apareceu pra ela em uma rede social, adicionou como amiga e começou a conversar sobre as postagens dela por lá. A conversa se estendeu, se aprofundou e começou a virar outra coisa antes que Aline comentasse sobre a foto, mas chegou o dia em que finalmente falou. Começou perguntando quais eram as chances dele ter andado no Jardim Botânico em noventa e quatro ou noventa e cinco, e como ele falou que as chances eram muito altas, porque ele morava por perto e andava muito por lá, acabou contando tudo. Disse “eu acho que era você”, e ele concordou e disse que adoraria ver a foto pra confirmar. Ela disse que ia pedir à mãe que ela enviasse uma fotografia da fotografia, e ele aproveitou pra comentar que adoraria ver a foto original, ou que pelo menos eles poderiam examinar a foto da foto em um encontro cara a cara – e isso porque, àquela altura, já estava mais do que na hora dos dois se encontrarem, mesmo. No Café do Teatro, onde marcaram, descobriram que era ele, sim, sentado naquele banco – e isso incendiou ainda mais a relação dos dois. Casaram-se menos de um ano mais tarde. Num dia de muito frio, em julho, em que o Jardim Botânico amanheceu coberto de geada, todo de branco – fato que eles nos contam com um certo orgulho, como se fosse óbvio que o parque tinha tido a delicadeza de também se enfeitar pro casamento deles.
Um comentário:
Penso que todas as pessoas que cruzam nosso caminho - e nós o deles- têm um propósito, na maior parte dos casos jamais saberemos qual!!
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