quarta-feira, 8 de maio de 2019

Nem uma nuvem e precisamos desesperadamente de uma sombra
Antes de atravessar a rua ele apertou a carta que levava no bolso
Como pra tirar alguma força dela
Um circo no Taguaparque
Um circo em Moscou
Um circo cheio de estrelas e que só pega fogo no melhor sentido
Precisamos de água atravessamos a cidade embaixo de um sol muito quente
Ele pensava Eu sou amado
Não
Tentava ler com os dedos a frase exata
A carta dizia Você vive em meu amor
Dizia Enquanto você existir não viverá em nenhum outro lugar porque eu não posso
É óbvio
No retrato que fazem as casas do teu mapa astral
E em nossas casas astrais
No mais profundo e calmo bem estar
Lugares de esticar os lábios em sorrisos quietos
Alguém ao nosso lado disse de repente Deciframos a tarde
Quantas vezes aqueles que imploram por luz
São cego à luz que jorram
Mas queremos nos sentar um pouco à sombra e ficar olhando enquanto os carros passam
Queremos muitas coisas por exemplo atenção queremos atenção o tempo todo e queremos o que não temos nem nunca teremos ou não teremos tão cedo
O cheiro dos gerânios em janeiro
Constelações têm outros desenhos quando vistas de dentro
Queríamos deixar claro o que nos incomoda e gritar bem alto Nunca se perdoe
Muita gente precisava mesmo de não se perdoar no mundo hoje
Mas essa gente nem ouve
E agora só não vemos a hora de chegar em casa
Tirou a mão do bolso e calculou a distância dos carros e a largura da pista e sua pressa e
Correu alucinadamente pensando em afagos repetidos até o descanso
Queríamos dizer a quem quer que fosse que ainda estivesse ouvindo
Perdoe-se você pelo menos
E vamos adiante e vamos logo não chore
Nós também te perdoamos

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