Nem uma nuvem e
precisamos desesperadamente de uma sombra
Antes de atravessar a
rua ele apertou a carta que levava no bolso
Como pra tirar alguma
força dela
Um circo no
Taguaparque
Um circo em Moscou
Um circo cheio de
estrelas e que só pega fogo no melhor sentido
Precisamos de água
atravessamos a cidade embaixo de um sol muito quente
Ele pensava Eu sou
amado
Não
Tentava ler com os
dedos a frase exata
A carta dizia Você
vive em meu amor
Dizia Enquanto você
existir não viverá em nenhum outro lugar porque eu não posso
É óbvio
No retrato que fazem
as casas do teu mapa astral
E em nossas casas
astrais
No mais profundo e
calmo bem estar
Lugares de esticar os
lábios em sorrisos quietos
Alguém ao nosso lado
disse de repente Deciframos a tarde
Quantas vezes aqueles
que imploram por luz
São cego à luz que
jorram
Mas queremos nos
sentar um pouco à sombra e ficar olhando enquanto os carros passam
Queremos muitas coisas
por exemplo atenção queremos atenção o tempo todo e queremos o que não temos
nem nunca teremos ou não teremos tão cedo
O cheiro dos gerânios
em janeiro
Constelações têm
outros desenhos quando vistas de dentro
Queríamos deixar claro
o que nos incomoda e gritar bem alto Nunca se perdoe
Muita gente precisava
mesmo de não se perdoar no mundo hoje
Mas essa gente nem
ouve
E agora só não vemos a hora de chegar em casa
Tirou a mão do bolso e calculou a distância dos carros e a largura da pista e sua pressa e
Correu alucinadamente
pensando em afagos repetidos até o descanso
Queríamos dizer a quem
quer que fosse que ainda estivesse ouvindo
Perdoe-se você pelo
menos
E vamos adiante e
vamos logo não chore
Nós também te
perdoamos
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