quinta-feira, 29 de agosto de 2019

luz enquanto susto, um raio rasgando a noite insuportável e também enlouquecido contraste, a luz enquanto miserável querer de quem descobre o paraíso é de mentira é pura tinta em painéis de cartolina, luz que se derrama indiferente sobre os condenados presos pelos nós de suas vísceras amarrados em cadeiras velhas é melhor começar a falar tudo que sabem, luz enquanto angústia de quem vê através das grades a provocação risada que se escuta e sombra já tomando fôlego, luz enquanto uma arma apontada para a sua testa, luz no canto do olho onde a cegueira é obrigação imposta pelos deuses, luz assassinando o frágil e desesperado sono dos exaustos, luz enquanto ausência do conforto de não ter que ver, luz que não corresponde claramente ao não ser trevas, luz enquanto arrastado andar sobre montanhas monstros gigantes e brutais devorando o sol nos mais sangrentos e espetaculares crepúsculos, luz pontilhada de estrelas e insuficiente chuva para a sede dos que ardem, luz enquanto esmagadora falta de opção de existência, enquanto ideia impossível impessoal de alma, enquanto alvoroço dos átomos, enquanto um eterno e contraditório enquanto.

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