Cinco segundos de olhos fechados e dez mil anos
imaginários ondulam até o instante. Arrastam retratos e objetos do dia a dia como
xícaras ou chaves, pele morta, pensamentos de profundidades insondáveis, um
desejo antigo ardendo cansado. Se eu conseguisse organizar todas as lições que
recebi da vida em uma só enciclopédia, se ao menos esse conjunto apontasse em
uma única direção, clara e definida, sem margens de erro. Oito segundos, uma
inspiração, um fluxo invisível carregando cálculos e caminhadas, cascas secas de
ideias que já foram frutas suculentas, ou uma foice, ou um bálsamo. Gostaria
especialmente que você, mais do que todos, mais do que tudo, gostaria que você soubesse
que merece amor, paz, força de fé e acreditar de ciência, a liberdade e os
meios, e espero sinceramente, de todo o meu coração eu espero que você tenha
coragem de ser. Em meus melhores sonhos e preces. Um mar, um maremoto de
silêncios milenares, mergulho intradimensional, doze, talvez vinte ou trinta
segundos de olhos fechados através de todo o vasto mundo ainda não visto, ou
inventando, ou já vivido, o sempre novo e repetido outro, igual e de improviso.
Até que alguma coisa emerge do nada, há pouco não havia nada ali, aí você
começa a se perguntar se o nada não seria o mesmo que todas as possibilidades
juntas. A alegria observa, trêmula de imprecisão e pressa, aquecida ao sol
desesperado do início da tarde. Um minuto, só, talvez alguns segundos a menos
ou a mais. À sombra de árvores esparsas, disperso e contínuo, na grama que se
espalha à espera de algum vento inquieto, bebendo o vento inquieto, quieto, perdidamente
submerso na inquietude sagrada.
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