quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Cinco segundos de olhos fechados e dez mil anos imaginários ondulam até o instante. Arrastam retratos e objetos do dia a dia como xícaras ou chaves, pele morta, pensamentos de profundidades insondáveis, um desejo antigo ardendo cansado. Se eu conseguisse organizar todas as lições que recebi da vida em uma só enciclopédia, se ao menos esse conjunto apontasse em uma única direção, clara e definida, sem margens de erro. Oito segundos, uma inspiração, um fluxo invisível carregando cálculos e caminhadas, cascas secas de ideias que já foram frutas suculentas, ou uma foice, ou um bálsamo. Gostaria especialmente que você, mais do que todos, mais do que tudo, gostaria que você soubesse que merece amor, paz, força de fé e acreditar de ciência, a liberdade e os meios, e espero sinceramente, de todo o meu coração eu espero que você tenha coragem de ser. Em meus melhores sonhos e preces. Um mar, um maremoto de silêncios milenares, mergulho intradimensional, doze, talvez vinte ou trinta segundos de olhos fechados através de todo o vasto mundo ainda não visto, ou inventando, ou já vivido, o sempre novo e repetido outro, igual e de improviso. Até que alguma coisa emerge do nada, há pouco não havia nada ali, aí você começa a se perguntar se o nada não seria o mesmo que todas as possibilidades juntas. A alegria observa, trêmula de imprecisão e pressa, aquecida ao sol desesperado do início da tarde. Um minuto, só, talvez alguns segundos a menos ou a mais. À sombra de árvores esparsas, disperso e contínuo, na grama que se espalha à espera de algum vento inquieto, bebendo o vento inquieto, quieto, perdidamente submerso na inquietude sagrada.

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