A liberdade, muito mais – ou muito menos –
que um tratado
ou uma ordem das coisas no mundo,
é um homem sob a chuva numa praça da
cidade
na manhã mais calma,
andando a passos lentos,
contemplando o alto dos prédios,
perdido sabe-se lá em quais diálogos
submarinos,
numa expressão de nada,
ou qualquer coisa entre a preguiça e a
graça,
ou qualquer coisa como um puro homem
que é de músculo e de ideia – a liberdade,
tão diferente de um acordo entre os que
compartilham a jangada,
é a alma sempre pronta pra assentir com a
cabeça,
nadar sozinha, tomar os remos ou amar a
correnteza,
numa atenção contínua
que é às vezes agonia e glória
e é às vezes êxtase e castigo –
a personagem liberdade
na última página de uma novela
e a liberdade suja sobre o pó das ruas
e a liberdade música e poesia e tinta
e a liberdade regra em um artigo do
estatuto
e a liberdade sonho e a liberdade guerra e
a liberdade paga
e a liberdade voo e a liberdade corpo e a
liberdade raiva
e a liberdade tudo e a liberdade cada
ponto de uma estrada
caem por terra como folhas secas de
palavras
quando a paixão se
gosta, quando o querer dança e quando o ser se basta.
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