Suas janelas de assistir, poltronas de esticar as pernas e biscoitos e
bebidas bobas de matar o tempo e disfarçar aquela fome toda de vida, a fome
desmentida e renegada soterrada pelo medo horror e amor ao tédio então chamado
de descanso ou segurança, os seus passeios pela praia ou pelo parque, os seus
mirantes monumentos e filminhos de domingo à tarde, tudo que amortece o fogo, os
seus remédios e joguinhos de baralho ou bola ou quem corre mais rápido ou quem
derruba o outro mais rápido, qualquer coisa que grite mais alto, que aquiete,
silencie, cale, os seus sorrisos sem graça e suas palavras quietas sem alma, os
seus limites claros e armaduras visíveis sobre corações apodrecidos presos a
tão pouco e tão certos de que é bem melhor que nada, só um amor pré-fabricado,
feito sob medida e cheio de instruções implícitas às vezes vomitadas com raiva
como se todos já devessem ter aprendido há muito tempo, seus cachorrinhos e
gatinhos e churrascos e o preço dos seus carros, sua indiferença diante do maravilhoso
inexplicável, sua constante fuga de si mesmos, seu existir arrastado gastando o
chão, sobrando e transbordando a Terra, só mais um igual a tantos, próximo e
sem vez, espíritos mofados.
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