quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Suas janelas de assistir, poltronas de esticar as pernas e biscoitos e bebidas bobas de matar o tempo e disfarçar aquela fome toda de vida, a fome desmentida e renegada soterrada pelo medo horror e amor ao tédio então chamado de descanso ou segurança, os seus passeios pela praia ou pelo parque, os seus mirantes monumentos e filminhos de domingo à tarde, tudo que amortece o fogo, os seus remédios e joguinhos de baralho ou bola ou quem corre mais rápido ou quem derruba o outro mais rápido, qualquer coisa que grite mais alto, que aquiete, silencie, cale, os seus sorrisos sem graça e suas palavras quietas sem alma, os seus limites claros e armaduras visíveis sobre corações apodrecidos presos a tão pouco e tão certos de que é bem melhor que nada, só um amor pré-fabricado, feito sob medida e cheio de instruções implícitas às vezes vomitadas com raiva como se todos já devessem ter aprendido há muito tempo, seus cachorrinhos e gatinhos e churrascos e o preço dos seus carros, sua indiferença diante do maravilhoso inexplicável, sua constante fuga de si mesmos, seu existir arrastado gastando o chão, sobrando e transbordando a Terra, só mais um igual a tantos, próximo e sem vez, espíritos mofados.

Nenhum comentário: