Eva
comprou um pequeno tabuleiro de jogo-da-velha com peças feitas de casca de coco,
e a gente ia jogando no caminho até São Luís do Maranhão. Ela contava a
história de uma atriz que tinha sido maltratada na rua por causa da personagem que
interpretava na novela, uma vilã, e só porque essa estranha na rua não entendia
que aquela na TV não era ela.
–
Imagina isso num blog de literatura – falei. – Onde eu conte histórias, publique
poesia... Acha que alguém vai entender a diferença entre mim e o eu-narrador,
entre mim e o eu-lírico?
–
O que mais me chama a atenção aí é você falar em blog como se isso ainda
existisse – ela respondeu.
E
me contou outra história, dessa vez sobre uma amiga que tinha sido demitida por
causa de publicações na internet no início do século. Alguém da chefia achou
que eram indiretas, e parece que uma dessas publicações chegou a causar algum
problema de verdade, não lembro bem. Mas a mulher jurava que não, nunca, nem
passou pela cabeça dela nada relacionado ao trabalho na hora de publicar.
E Eva sabia que era verdade, conhecia até o motivo de uma publicação ou outra,
mas ninguém acreditou, e no fim ela acabou não tendo a chance de desfazer o mal-entendido.
–
Era uma grande amiga – ela falou. Pareceu se lembrar de algo divertido, olhou
para mim sorrindo: – Ela implicava com o “te quiero”. Dizia que era sexual
demais dizer que você quer alguém, ficava “indignada” que no espanhol isso
pudesse substituir “eu te amo”. O “eu te amo” já tem gente que não consegue
separar do desejo, né?... Eu vivia dizendo pra ela: “Te quiero”, “te quiero”,
só pra encher o saco, mas também porque eu queria ela, mesmo. Faz tanto
sentido, pra mim.
Pareceu
que ia ficar melancólica, mas se ia, não deu tempo. Tinha acabado de ganhar a
primeira partida de jogo-da-velha depois de umas oito derrotas consecutivas.
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