De repente, do nada, por nenhuma razão,
Surge essa voz
interior lembrando que você fez bem, um dia,
Por ter ajudado aquela
senhora a carregar as compras,
Por ter devolvido um
troco que lhe deram errado,
Por ter poupado um
desafeto de uma ofensa gratuita.
Às vezes, quando você
está distraído com qualquer outra coisa,
Surge essa voz dizendo
que você agiu mal, muito mal, mal mesmo,
Quando ignorou um
pedinte que obviamente passava fome,
Quando não segurou a
porta de um elevador para um atrasado,
Quando riu dos
defeitos de alguém, ou não retribuiu gentilezas.
Quase sempre, ao fazer
coisas por aí, surge essa voz dizendo
Que você fez bem, ou
que você fez mal, no instante em que você as faz,
De modo que algumas
vezes dá tempo até de desfazer um mal feito, ou
Só pedir desculpas,
ou, se ninguém reparar numa atitude louvável,
Você pode dizer a si
mesmo Parabéns, quem sabe até dar-se um prêmio.
Mas sempre, o tempo
todo, não importa o que você faça,
Surgem essas duas
vozes simultâneas repetindo, contínuas,
Você fez bem e Você
fez mal, sem que se possa nunca ter certeza de
Qual delas diz a
verdade, qual delas está mentindo – e é este não saber, afinal,
A maldição de todos os
seres, além de ser a sua liberdade.
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