terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Mas o teu ódio é santo. Sim, porque teu deus ficou chateado, eu acho, de ter sacrificado o próprio filho por um bando de idiotas, agora ele quer sacrificar os filhos dos outros. Quase dois mil anos estudando evangelhos pra acabar chamando de messias alguém que quer distribuir fuzis em nome de Jesus. Você acha engraçado, pra mim é muito triste que um deus de amor possa derramar tanto sangue com essa indiferença sempre que você ache conveniente. Com a facilidade de fechar os olhos. O mundo, você pensa, talvez seja só a maior das fake news que rolam na internet. Você ouve os seus iguais, chama de engajamento religioso o que é fanatismo político, a adoração pela força bruta, pela trindade do obrigar-proibir-castigar, deixa os adultos cuidando das Coisas Sérias e vai ver um filme de homens com força impossível explodindo tudo no cinema. É só tuitar reclamando de quem reclama, não como se silenciar a dor pudesse fechar uma ferida, mas porque as feridas não existem, é tudo entretenimento. Você pode se arrastar como só mais um, quem sabe um dia os patrões generosos se lembrem de você, desde que você se mate o bastante pra fortalecê-los. Fantoche à margem, é melhor mesmo não ouvir nada além da voz mansa e confiante que te vende mentira em cima de mentira, ou você pode se dar conta de que se enganou e isso seria o fim do mundo. Repete, como se fizesse parte de um clube pro qual nunca foi nem será convidado, que é tudo sobre dinheiro e poder, mocinhos e vilões, todas essas coisas que se tornaram a mesma e que já não dão espaço a nenhuma outra, embora ainda sejam só um grande e redundante vazio. Aplaude o teu governo missionário como quem canta um hino de louvor diante do espelho, tanto faz que o mundo seja devastado, toda a sua riqueza ambiental e cultural destruída pra caber no teu ego. De onde nada retorna, nem acrescenta, nem agradece. Pela glória do que te ensinaram, pra engrandecer o que te esmaga, nada, absolutamente nada é mais seguro que estar morto. Ser invenção dos outros. Pagar teu dízimo de se omitir e, como isso é coisa que sobra, continuar pagando.

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