Luzalegre, 25 de julho de 2012
Ruth;
minha querida, para as nossas bodas, te preparei um poema,
mas queria mais que ele soasse como a minha voz ao teu ouvido, numa tarde
ensolarada de domingo, passeando à beira de um lago. Com alguma brisa. Ao longo
de todos esses anos, dia após dia repetimos “eu te amo”, sempre tão seguros de que
aquilo que sentimos seja amor, nunca nos fez falta explicar nada disso a nós
mesmos, e apesar de que nos amamos já de tantas formas diferentes, mesmo agora
não existe outra verdade ou por que falar de outro jeito se não “eu te amo”.
Eu. Menino da primeira vez que te encontrei, crescendo
enquanto você caminhava em minha direção no altar, vivendo, te vendo, vivendo e
envelhecendo e ainda assim menino toda vez que te encontro, sei, por ter estado
ao teu lado em cada ciclo de lua que passou, encontro na tua voz, no olhar, no
gesto, reconheço no ir e vir das tuas marés, máscaras e lentes e palavras
demais para um dia a dia vazio ou para o que é indizível, percebo o teu amor, recebo
o teu amor, sou teu, sou grato, é como se a única realidade comprovável fosse
mágica.
Te amo nas manhãs mais cinzas, nas semanas agitadas de
muito trabalho, no vermelho do outono, no verso e na melodia, naquele tempo que
você botou na cabeça que ia ser artista plástica e nós vendemos a brasília e transformamos
a garagem em ateliê, nos nossos filhos, às vezes quando te odeio e sempre que
estamos muito quietos distraídos ou maravilhados olhando uma paisagem, sinto um
vulcão de sentimentos e sentidos, desejo despertando o corpo todo ou pétala de
algum perfume que embriague, então o coração também tem personagens, então
também a alma dos santos é uma legião de luzes e de sombras, é sempre novo o
sopro que me move, e de toda vez eu me devolvo inteiro para o teu abraço.
Outro
dia me ocorreu, é possível que eu tenha mais lembranças de nós dois juntos que de
mim sozinho. E isso me pareceu grandioso e admirável, algo que poderíamos
gravar em uma placa de bronze. Se era esse o livro da minha vida, se é assim que
acaba, então aceito, sim, e pode até deixar que eu mesmo conto. Nenhum outro
final faria mais justiça a esse ser feliz para sempre, desde aqui, para qualquer
dos lados que se vá no tempo.
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