sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Porque esse farol constante entre os olhos, percepção de que eu sou eu e de que sou assim, sempre um fluxo de palavras e de sensações, coisas sem nome.

Deus me deu duas mãos para semear e construir moradas, pés de ir adiante,
Deus me deu uma razão para compreender e calcular verdades, Deus me fez bicho
E senhor do meu desejo, do meu gesto e minha direção.

Quando também há um só fechar os olhos e deixar-se ir fundo na noite, o temperar pulsante do sono e do sonho, Deus me deu o delírio, tanto um esvoaçar de nuvem quanto o silêncio quente em corações de rochas, trevas da morte e uma porção de pólen, barco intergaláctico.

E apesar de mentiras em papéis timbrados, câmeras de segurança e muros erguidos sobre linhas imaginárias, toda a Terra me foi dada para eu andar por onde bem quiser, colher os frutos e beber das fontes, reconhecer pelo caminho os meus irmãos e irmãs, assistir maravilhado ao poente.

Sim, o céu também me pertence, e cada uma das estrelas sobre o mar, e mais
O mar é meu, e anêmonas e peixes, cores de corais, e ainda as árvores são minhas,
Do espinho à pétala, pois ter nascido é ter tomado posse, é ter colocado na cabeça a coroa.

Procure em vão no universo ou nos séculos o mais vago vestígio de uma prova em contrário.

Um comentário:

Beti disse...

Deus me deu tudo....amém!