Porque
esse farol constante entre os olhos, percepção de que eu sou eu e de que sou
assim, sempre um fluxo de palavras e de sensações, coisas sem nome.
Deus
me deu duas mãos para semear e construir moradas, pés de ir adiante,
Deus
me deu uma razão para compreender e calcular verdades, Deus me fez bicho
E
senhor do meu desejo, do meu gesto e minha direção.
Quando
também há um só fechar os olhos e deixar-se ir fundo na noite, o temperar
pulsante do sono e do sonho, Deus me deu o delírio, tanto um esvoaçar de nuvem
quanto o silêncio quente em corações de rochas, trevas da morte e uma porção de
pólen, barco intergaláctico.
E
apesar de mentiras em papéis timbrados, câmeras de segurança e muros erguidos
sobre linhas imaginárias, toda a Terra me foi dada para eu andar por onde bem
quiser, colher os frutos e beber das fontes, reconhecer pelo caminho os meus
irmãos e irmãs, assistir maravilhado ao poente.
Sim,
o céu também me pertence, e cada uma das estrelas sobre o mar, e mais
O
mar é meu, e anêmonas e peixes, cores de corais, e ainda as árvores são minhas,
Do
espinho à pétala, pois ter nascido é ter tomado posse, é ter colocado na cabeça
a coroa.
Procure
em vão no universo ou nos séculos o mais vago vestígio de uma prova em
contrário.
Um comentário:
Deus me deu tudo....amém!
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