Conheceram-se no caixa
de um restaurante, depois descobriram que tinham ambos o resto da tarde livre,
então por que não, o rapaz conhecia uns lugares interessantes pra visitar ali
perto. Mas não conhecia ninguém na cidade: tanto quanto Joaquin, estava lá só
de passagem. “Ninguém gosta de mim”, repetiu algumas vezes com os olhos baixos,
e Joaquin via algo de sua própria tristeza refletida no rapaz. Naquela época,
trabalhava como representante comercial, tentando vender sucos de frutas que
não nasciam a menos de mil quilômetros das cidades onde ia. Passava muito tempo
na estrada e muito pouco tempo em cada cidade – e também não conhecia ninguém
naquela, mal lembrava seu nome. Também tinha a impressão, muitas vezes, de que
ninguém gostava dele.
– Vezes até demais –
confessou.
E quando contou essa
história, demorou-se, nesse ponto, em alguma lembrança silenciosa, os olhos
perdidos por um longo instante, sem revelar mais nada.
Ele se chamava Martim,
disse, afinal. Estava hospedado em um albergue ali perto e parecia bastante
chateado com alguma coisa que tinha acontecido lá, mas não dava pra entender
direito, ele falava sem parar e às vezes eram coisas sem nenhum sentido, repetindo
o refrão “Ninguém gosta de mim” muitas vezes, vezes até demais. Mostrou o nome
do ex-namorado tatuado no braço, teve que abaixar um pouco a calça e a cueca
pra mostrar a tatuagem de pequenas e delicadas flores ligadas por um fio. Disse
várias vezes que achava o Joaquin lindo, lindo, lindo demais pra estar
solteiro, acariciava o seu braço, uma vez ou outra tentou segurar sua mão.
– Mas eu não me
importava com isso – disse Joaquin. – Acho que até aquele dia eu não tinha me
dado conta do verdadeiro peso da minha solidão.
Martim. Eles andaram
juntos a tarde inteira, depois acabaram em alguma lanchonete tomando o suco de
uma fruta que só nascia naquela região e de que Joaquin nunca tinha ouvido
falar. Foi com o rapaz até o portão do albergue, deixou-o lá, despediu-se, já estava
outra vez andando em direção à rua. Martim se sentou em um banco encostado ao
muro, debaixo de uma árvore, e parecia mergulhado em sombras quando Joaquin se
virou pra trás pelo que pensou que fosse a última vez. O rapaz escrevia em um
caderno pra depois procurar por ele no Facebook, em letras garrafais: JOAQUIN.
Ninguém gosta de mim, estava dizendo ainda, ninguém gosta de mim, ninguém
gosta, ninguém. Por que você está indo embora? O que foi que eu fiz?
– Aí nessa hora eu fui
até ele – contou Joaquin, – segurei seu rosto entre as mãos e beijei... não,
beijei não... mordi seu lábio inferior.
Fez uma pausa, durante
a qual perguntei:
– Mas por que você fez
isso, Joaquin?
E ele:
– Ah, sei lá, pô...
Acho que... Todas as frutas.
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