sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Ainda rastejantes, agarrados aos livros de regras, desenhando seus rankings com o impulso infantil, mas vomitando teses, amontoados de palavras que se moldam às circunstâncias, convenientes, atribuídas aos deuses ou a qualquer grandeza arbitrária por trás da cegueira, desfilando a arrogância de se sacrificar por mentiras, a podridão de suas intenções mais puras, a lama escorrendo de suas consciências limpas, o demônio delicado e sorridente citando as escrituras.

A idolatria do confronto não bate palmas no portão, derruba a porta; não te pede um minuto pra falar sobre a intolerância, não tem livrinhos ilustrados com famílias felizes em seus mundinhos de gritos e agressões gratuitas, não pergunta se pode orar ou entoar louvores aos vencedores que nos desprezam, não convida a dar as mãos pra atirar outra pedra. Está em todas as mensagens, conforta com o seu humor destrutivo, embala o sono dos preguiçosos.

Seu pensamento de espuma, embriagado, não suporta por os pés no chão, vaga à deriva. Onde haveria encontro e realidade, onde pudesse haver uma prova concreta de estarmos juntos, um saber de estar sendo, há o borbulhar das bolhas virtuais e de avatares de desenho, as certezas encaminhadas de alguém qualquer de um qualquer grupo, a percepção amortecida por cliques. Agora algoritmos ditam os ritmos, a matemática de repetir o mesmo, no tom exato, o canto da sereia, as algemas, o vício de seguir alheio. E enquanto isso, a arte morreu no mercado, baleada perto do balcão das frutas, limões e pêssegos pisoteados, uvas, morangos, sangue de verdade.

Tenho ouvido as coisas mais lindas sobre o amor, mas por onde será que você anda a essa hora?

Nenhum comentário: