como eu
tinha que falar muito rápido e não sabia se você estava reparando o quanto eu
mal podia acreditar que você estava ouvindo um pensamento que era um fiozinho
solto e quando eu fui puxar desfiou tanta coisa que eu queria que você soubesse
e nem sabia como se transforma em palavra que se entenda esse amontoado de um
emaranhado de um bolo de um rolo de um novelo de um monte de coisas
interligadas que a gente é
As duas foram se sentar ali porque gostavam de como podiam ter a ilusão de estarem longe da cidade ou daqueles tempos loucos em que viviam especialmente se alguém passeasse de canoa no lago mas também porque aquela era a melhor chance que tinham pra se ver durante a semana e tinham pouco mais de uma hora ela acordando pra encarar um turno da noite na farmácia e ela de passagem entre um lado e outro da cidade entre um emprego e outro entre uma angústia e outra mas naquela tarde as duas mal olhavam a paisagem distraídas que estavam com seus celulares e o wi-fi da lanchonete até que uma delas pegou do bolso um pedaço de papel rabiscou alguma coisa e entregou à outra
VOCÊ
SE LEMBRA DE COMO ERA CONHECER PESSOAS
ANTES DOS CELULARES E DA INTERNET?
como
eu não tinha ideia do quanto faltava pra quem via de fora até que estivesse
completa a imagem o sentimento a ideia cuja realidade reunia aquelas frases
todas que iam como locomotiva eu achava que você só conhecia uma parte e
parecia que se eu parasse então a própria essência de quem eu era se
dissolveria assim de repente como se a voz fosse a minha substância e aquele
conjunto pobre de sons espalhados no tempo algo que realmente manifestasse a
totalidade da minha existência
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