bravos
irmãos
gentil
senhora
menina
gentil – brava menina e menino gentil
meninos
irmãos
bravas
mulheres e homens com seus gestos transparentes de acolhimento
copos
de água pra quem tem sede
vento
gentil à sombra a quem tem caminhado uma longa estrada
a
palavra de entrega e presença
a voz
clara
calmos
guerreiros atentos e de atitude amiga
é uma
existência já exausta
a que
trago atrás dos olhos às portas de suas casas
eu o
forasteiro
sem
irmãos sem leis já quase sem vontade
bravas
guerreiras
doces
irmãos doces e bravos
queridas
irmãs de meu coração sem amparo
todo
este continente atravessei maravilhado e triste
constantes
eternidades sendo gravadas a fogo no mais fundo da memória
tenho
amado homens e mulheres de tantas músicas na fala
de
tantas línguas nativas e estrangeiras por aqui espalhadas
mas não
posso pertencer nem amo nada que acredite possuir o que seja
não
reconheço autoridades nem haverá jamais governo que me represente
por
todas essas terras amei e me despedacei partindo sempre
ouço
ainda os lamentos
vejo
ainda os povos tentando levantar exércitos
vejo
ainda os povos que acreditam só estarem de pé graças aos seus exércitos
vejo
os povos que tombam
tenho
chorado mais que as águas deste rio que me trouxe
tenho
chorado os rios que a ele se juntam até transbordarem o mar salgado
meus
olhos mal conseguem enxergar de tantas águas
minhas
mãos trêmulas já não suportam o peso da bagagem
meus
pés se recusam ao próximo passo
estou
sozinho demais em uma época hostil
e não
tenho outra época
ouçam
não
tenho mais amores pra cantar nem versos que me confortem
não há nada de mim sob meu nome e renuncio a tudo que ainda seja máscara
transformações
bem mais profundas têm se desdobrado ocultas em minha alma
e eu
tenho sede delas
me
alegra que eu tenha chegado a este porto e que fossem vocês que estivessem
perto
me
saciam seus pães
seus
amores suas vozes fortes quando me desejam boa tarde
vejam
meu
corpo precisa de repouso
meus
sonhos velhos querem se deitar às margens de suas matas
beber
seus pássaros azuis
as flores
vermelhas da praça
irmãos
rainhas
descalças
elementais
das ruas e do concreto
me
abracem
me
deixem ficar mais um pouco
é hora
de compreender
com meu corpo
o que é jamais ir
embora
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