Que eu
quisesse ser outro e não este bandido que é um senhor da noite
e vaga
sem rumo em todas as direções contrárias
faria
com que o teu olhar se fixasse em mim
e
brilhasse outra vez como o antigo mar das estrelas roubadas
por
nosso medo do escuro?
Se em
vez de te buscar em todas as mulheres que me escapam
ou
despir continuamente a minha alma cada vez mais solitária
eu me
jogasse aos teus pés e confessasse que não te pertenço
mas
que ofereço todo o meu não-pertencer por uma vida de encontros
aceitarias
finalmente que eu me acomodasse em nós?
Onde
eu guardasse o meu ouro e meu temor de já não tê-lo
entrarias
nua e vendada ao risco de ser feita prisioneira
de um
amor desigual até que eu me livrasse dos espelhos
e só
me quisesse em teu rosto – centro do meu universo
e
tempo da minha história inteira?
Porque
eu não fosse de rua e de tantos segredos
nem me
lembrasse dos monstros que há por trás das máscaras
teria
abrigo em teu corpo para ser só um homem
feliz
e agradecido por haver chegado ao termo
que é
o princípio e o caminho e nosso único propósito?
Como
eu deixasse o silêncio e o vazio dos meus sentidos
para
me embriagar do som estranho de uma vida a duas vozes
inventando
um mesmo canto, deixarias também a tua descrença
para
fingir comigo algum encantamento
que
deveras nos encante?
Quando
eu chegasse exausto e velho da jornada
feita
de tantos não-ter-ido para ficar ao teu lado
te
encontraria ainda presente nessa mesma esfera de delírio
no
haver escolhido o mesmo passo ainda que não os caminhos
e além de ser e de
estar, o ter inexistido em boa companhia?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário