sábado, 5 de dezembro de 2020

deixar quem sabe algum ar em fotografias noturnas antes de morrer afogado um olhar à janela a falta absoluta de perspectivas – ainda se fosse só isso – aquele agora bruto e deserto demais pontilhado de luzinhas brancas dos apartamentos espalhados num interminável breu de tempestade e madrugada urbana entre os amigos tristes.

e se a alegria se pudesse transferir de uma alma a outra apenas por estar ali, talvez, amores, mas então me fala se a palavra alegria apenas tenta remendar a falta de palavras pra algo assim entre a satisfação e a fúria e não estar pensando em nada – sim, se eu fosse esse poeta, se uma palavra assim digamos jambo só por ser ouvida fosse um gosto na tua boca eu te daria logo um cacho.

“algo se perdeu pra sempre”, resmungávamos – agora nos ocorre que não poderia ser perdido o que jamais esteve lá, ou só fotografias de ausências, memórias que não eram, mas também há muito neste mundo que só pode ser visto mesmo assim meio que não vendo, como elétrons, ou como a barra da túnica de deus.

deixar quem sabe as possibilidades.

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