Tinha
uma festa na sua rua, mas ela estava lá porque era a sua rua, e não porque era
festa, e tinha um ar meio que de ter sido roubada, de não saber mais o caminho
de casa, de quem me via pela primeira vez. E foi assim: no instante em que me
viu, me abraçou, demorou-se um pouco no abraço.
Não
houve um tremor de terra, nem um arrebatamento.
Gesto
comum em roupas de rotina. Gesto puro gesto, não mais do que abrir uma torneira
e encher um copo com água, dar duas voltas na chave pra trancar a porta. Noite animada
esparramada na rua, as crianças correndo as músicas maçãs do amor luzes da
praça.
Talvez
fosse o abraço mais melancólico da História, mas o momento engolia o que quer
que se pudesse dizer a seu respeito.
Nem
houve uma suspensão do tempo, ao contrário: era quase como se desemperrasse uma
engrenagem.
A vida
acontece, e acontece, e acontece.
A imagem, só ela se
guardou. Mais uma pedra arremessada com displicência no rio, alterando
sutilmente – e pra sempre – o curso de suas águas.
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