No alto da gruta ao lado da matriz, eu contava ao Lucas sobre a Serra da Canastra, a nascente do Rio São Francisco e a vontade que eu tinha tido de ficar por lá - "Não sei por que não fiquei", eu dizia, "cheguei tão perto disso". O mesmo estava acontecendo ao Lucas ali em São Tomé das Letras, mas eu ainda não sabia. Nem foi nessa ocasião que ele me contou - em vez disso, contou uma de muitas lendas transmitidas de geração em geração pela família de seu pai, algo que vinha de muitos séculos atrás e de algum lugar do sul da Ásia. Falava sobre um monte muito alto ao final de um longo e tortuoso deserto, em épocas ancestrais, e de um homem que havia sonhado a vida inteira em chegar ao topo desse monte, contemplar a imensidão da terra lá de cima. Ele se preparou durante muito tempo, era uma viagem perigosa da qual os únicos que haviam regressado tinham fracassado em completar o trajeto. E então partiu, enfrentou todos esses perigos, esteve à beira da morte, até o dia em que avistou o cume bem perto. Ele não estava cansado, nem ferido, sabia que podia chegar lá, não teria dificuldade nenhuma. Mas então algo desapareceu dentro dele, e ele já não sentia o menor impulso de continuar andando naquela direção. Parou, contemplou o alto do monte por um longo tempo, respirou fundo, deu meia volta e começou seu regresso.
Não sei quanto tempo ficamos em silêncio até que eu enxergasse lá embaixo, na rua, uma mulher dançando de um jeito que prendeu completamente a minha atenção. Meu coração acelerou, eu não podia acreditar, será, não podia ser, mas era. Eu procurei por aquela mulher por vários dias em Machu Picchu, não podia ser ela, e ao mesmo tempo era impossível não ser. E para provar que era ela, sim, claro, de lá mesmo de onde estava, longe, entre todas as pessoas possíveis na rua e na praça, foi para mim que ela olhou, sorriu e repetiu o mesmo gesto que tinha feito em Machu Picchu, cruzando as mãos em frente ao peito e inclinando levemente o tronco em uma saudação. Lucas não percebeu o meu silêncio tranquilo se tornar um silêncio perturbado, e se assustou quando me levantei de repente.
"Você está vendo aquela mulher de alaranjado?", perguntei, e ele disse "Sim, você pensou que fosse uma aparição?". "Vai atrás dela", falou, e eu disse "Eu vou, nunca vou me perdoar se eu não for. Mas não vai adiantar. Ela só veio se despedir."
E saí apressado porque a minha voz tinha começado a falhar.
Mas fui em vão, como eu já esperava. Mais uma vez, não consegui alcançar nem encontrar de novo aquela mulher, e nunca mais voltei a procurar por ela.
Um comentário:
Fico sempre esperando as continuações destes pedaços de historias
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