A realidade já estava aí quando eu cheguei, acontecendo sem mim, completamente indiferente ao que eu pensava dela. As latas de lixo transbordavam nas calçadas, as lojas de armas, ônibus lotados e uma lua imensa e amarela no final da rua, eu ia pela Avenida Anhanguera desde a Leste Oeste até a Goiás, tinha um festival de teatro acontecendo na cidade e cores pelas praças e anarquistas plásticos e eu pensava se algum milagre ia chegar correndo até mim desde Trindade, ou se eu olhasse pra trás ainda podia ver as duas estrelas juntas que eram Júpiter e Vênus. Poeira, excessos e bobagens de metrópoles, a realidade é que as realidades são tantas, nenhuma é menos, nenhuma é mais. Alguns amigos me esperavam perto do Zoroastro, alguém tinha sugerido um boliche, outro falou em cerveja, realidades arremessadas à procura de qualquer consonância, o mar de concreto engolia os meus olhos e o suor e as solas dos nossos sapatos, às vezes eu tinha a impressão de que jamais havia chegado a viver ali, apenas existia. Mas real, real. Punks, sertanejos e diabos velhos e o motor das máquinas, ternura calejada, uma alegria meio árida. Tudo era demais cidade, os corações de asfalto, a essa hora já deviam ter acendido há tempo as luzes dos postes, ou de esperanças ou memórias, ou qualquer coisa que brilhasse, mas ninguém sabia muito bem onde isso começava, então só tentávamos, e achávamos bem mais verdade estar em busca do que em posse das respostas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário