sábado, 1 de maio de 2021

o poeta, então,
deitou-se na relva
as palmas das mãos na terra

e em seus ouvidos, pequenos insetos começaram a sussurrar os segredos do solo, e pelas pontas de seus dedos começaram a chegar vibrações, nutrientes, mistérios...

Primeira Era
O poeta aprende, seu sangue é derramado. As pessoas que passam o agridem, vagabundo sem-vergonha, algumas chegam à violência física, a maioria apenas cospe. O poeta está escutando o planeta, já conhece os fundamentos do surgimento da vida.

Segunda Era
O poeta é esquecido por todos, em suas veias corre seiva. Aparecem as primeiras formas de vida surgidas somente pela sua vontade: fungos, vermes, aranhas tão pequenas que mal podem ser vistas a olho nu.

Última Era
O poeta é engolido pela terra, em suas veias corre magma. A sua consciência se espalha em toda a superfície, mergulha com os abismos submarinos, sente sobre si o peso de todos os mares.

no centro de qualquer cidade
junto com os raios da aurora
uma flor estranha nasceu

os transeuntes não reparam. milhares, que vão e vem enquanto o sol sobe no céu, sem ver. a não ser por ela. aquela menina se aproxima, os olhos brilhando apaixonados, "você nasceu esta manhã", ela diz, com um sorriso nos lábios. a terra não chega a saber.

(E a menina também se vai, o coração aquecido,
uma luz tão mais viva.
E nem se lembra da flor, e segue uma vez mais absorvida
por seu dia a dia, alheia
à completa banalidade
daquele milagre.)

Um comentário:

Beti disse...

o poeta, então,
deitou-se na relva
as palmas das mãos na terra

e em seus ouvidos, pequenos insetos começaram a sussurrar os segredos do solo, e pelas pontas de seus dedos começaram a chegar vibrações, nutrientes, mistérios...
Preciso deitar mais na terra...