sábado, 15 de maio de 2021

Portoalto, 25 de julho de 2012

Daiana;

Eram planícies infinitas, córregos inesperados, a amplidão era quente e com cheiro de tantas ervas, as pontas dos meus dedos deslizavam nas costas da tua mão, tinha sol, já eram quatro ou cinco horas da tarde. E era um silêncio e duas respirações descansadas. Ou talvez na tua memória as cores não sejam assim tão vivas, nem os contornos tão claros. Depois foram séculos de pântanos e de penhascos todas as vezes que você não estava, uma visão da noite engolindo todos os espaços até que eu aprendesse as estações do nosso encontro. E eu te esperava, então, e eu te alcançava, e andei por longos caminhos onde você nunca existiu.

Muito rápido entendi que estar longe não evitaria os teus olhos grandes e redondos sempre sobre mim, conselhos não solicitados, retratos distorcidos, e já são tantas as coisas que eu não te perdoo, eu tenho tanta raiva quando você não liga, mas poucos foram os que me escutaram até o fim, raras as vezes em que gostei assim de mim mesmo por causa de impressões de alguém. Além de ser você mesma um evento de magnitude cósmica, a mordida na fruta madura, algo de mágico pairando muito depois de eu já ter descoberto o truque. Estendo a mão: tocar a tela não pulsa, a temperatura não fala, mas aí está você dançando comigo a mesma velha troca, um porto seguro entre as milhares de destruições em curso, ontem à noite sonhei que te abraçava, como foi teu dia, acho que sempre te amei.

E as distâncias que já percorremos nas galáxias, simples diálogos, a gestação eterna e constante: não te surpreende, ainda, o nosso entrelaçar cotidiano, não te parece fantástico?

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