Naquela noite, começamos a criar as cenas no improviso e a escrever as primeiras linhas do texto. Escolhemos nossos próprios nomes pros personagens, apesar de que, como era tudo inspirado em contos de autores nacionais, ficava claro o tempo todo que eram só personagens. Começamos a discutir o título enquanto esperávamos a pizza e alguns de nós terminavam de se arrumar pra voltar pra casa. Frases dos contos, títulos dos contos, a Gabriella sugeriu que a peça se chamasse "Gabriella", o Mateus olhava em silêncio pela janela: a noite iluminada e barulhenta no centro de Curitiba.
Entre clichês e absurdos, a Larissa telefonou pra casa e o Mateus foi se sentar do lado da Gabriella, assim como quem não quer nada. Eu e a Jéssica imediatamente nos olhamos - tínhamos falado sobre os dois naquela mesma tarde...
- "Três lírios no peito" - falou a Larissa, voltando pra perto de nós.
Todo mundo ficou pensando naquilo por um tempo, parecia que tínhamos chegado a algum lugar. Mas era sempre uma história de que isso favorece só um conto, só um personagem, ou então é bobo, brega, alguém fazia uma piada e tudo se perdia.
Em pouco tempo, a Jéssica se cansou e decidiu colocar uma música, mas no fim, o interfone tocou antes do refrão, começou um movimento todo de juntar o dinheiro, ir pegar os copos, o Mateus e a Gabriella entraram em uma conversa só deles e eu fui até a janela olhar um pouco pra cidade do décimo andar.
Todo mundo sabe que, no exato instante em que se abre a primeira caixa, não tem nenhuma importância se é o maior clichê um ensaio terminar em pizza. Os ruídos de conversa desapareceram nos primeiros minutos, depois o silêncio terminou em comentários como "essa de frango com catupiry está uma delícia''. Mais alguns minutos de silêncio e de repente o Mateus falou:
- "Já pretendia amar".
E todo mundo gostou, mas ficou se perguntando se ele ainda estava falando de um título pra peça.
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