sábado, 20 de novembro de 2021

quando eu amava era um blues quando eu amava em neon de um amor noite afora, a vodca até quando um cigarro era aceso os paralelepípedos do centro histórico e os passos soltos descompassados sempre um ombro amigo sempre um comentário amargo inteligente revolucionário, os filmes europeus e orientais e independentes em cinemas de rua e romancistas politizados e poetas da contracultura em páginas rabiscadas de cinzas e manchadas de dor e lágrimas, quando eu amava era um jazz e então batom vermelho all that happiness happening também performances durando mais de uma semana em praças e em grandes construções abandonadas, havia algo de sujo na voz algo de sujo no gesto algo de sujo algo de sujo algo de muito puro e rock’n’roll na veia e na fumaça apartamentos velhos de azulejos encardidos e eu só sei que quando amava os homens e as mulheres e eu amava a madrugada labiríntica a vertigem da metrópole o caos das nossas vidas sempre urgentes e desesperadas, quem sabe eu não amasse ninguém nada ou só amasse a mim mesmo ou nunca tenha amado tanto e tão de verdade, quem sabe a noite só exista as ruas só existam à noite pros amantes desse tipo, quem sabe as portas tenham se fechado agora ou quem sabe aquele céu tenha sido sempre desperdiçado por nossa vontade louca de ter asas, ou era um voo impossível que acontece apenas quando não sabemos que não temos asas, quem sabe, quando eu amava as esperanças e as certezas eram sempre muito parecidas, 
tão altas 
tão distorcidas 
como as guitarras

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